Secura
Nos galhos ressequidos da roseira jazia um espinho. A mancha vermelha em sua ponta afiada trouxe-lhe velhas recordações. Aquilo era sangue, certeza que era. E era seu, ou melhor, fora seu. Agora pertencia ao tempo, ao passado...
Lembrou-se do susto que o fez espetar o dedo, das cores que enfeitavam o lugar. Sentiu o cheiro das rosas, misturado ao de Rosa. Sim, ele se lembrou do beijo e do susto, de dona Neca flagrando os dois bem ali, ao abrigo do roseiral.
Mas Rosa foi embora, ele era pobre, nem sequer as rosas o pertenciam. Nenhum futuro o aguardava e Rosa merecia mais, merecia tudo. Levaram-na para longe de suas vistas. Sem Rosa, tudo ficou cinza. As flores murcharam, as roseiras morreram, os pássaros sumiram e a secura tomou conta da paisagem.
A única água que se via, brotava dos seus olhos e de colorido, apenas o vermelho na ponta daquele espinho, que jazia nos galhos ressequidos da roseira...