Bye Bye Noel

Todo ano era a mesma coisa. O mesmo shopping, as mesmas lojas.

A mesma roupa vermelha, as mesmas crianças, e os mesmos malditos pais delas.

Já não mais agüentava todo aquele falatório, aquela árvore cafona de sempre.

Os pedidos de fotos, os absurdos presentes de natal .

Passara a odiar o natal mais do que odiava a sua própria e infeliz existência e o único motivo de estar ali ano após ano, era o dinheiro. Esse pedaço de papel que sempre lhe fizera tanta falta.

Naquela véspera de natal decidira que tudo seria diferente, daria às pessoas aquilo que elas queriam, seria o Papai Noel perfeito, pelo menos uma única vez. A última vez.

Imaginou como seria se ao invés de um brinquedinho vagabundo, tirasse de dentro do saco uma arma bem potente, daquelas capazes de acabar com várias pessoas ao mesmo tempo, sem deixar sequer rastro de que houvera ali, alguém. Era tudo o que ele mais queria.

“Ah, como seria bom!” - Uma vez, pelo menos uma única vez sairia triunfante.

Mas fora logo trazido de volta a realidade quando uma mãe de aparência cadavérica lhe reclamava que a barba postiça estava escondendo os cachinhos dos cabelos de sua filha. E mais uma vez, sentiu seu estomago embrulhar e amaldiçoou aquela e a todas as outras mães como ela.

De volta à sua casa, ainda fantasiado de Papai Noel com um copo de cerveja na mão e tragando um cigarro barato, tentara lembrar em que momento sua vida havia se tornado “aquilo”.

Subiu no parapeito da janela e se atirou de lá. Por alguns segundos ele voou e uma estranha felicidade invadiu-lhe o ser.

“Quantas pessoas você conhece que já conseguiram voar, hein?!” - Pensou consigo mesmo, satisfeito.

Queria ter deixado uma carta de despedida, é o que normalmente os suicidas fazem não é? Mas afinal de contas, quem iria ler?

William Schmahl Barros
Enviado por William Schmahl Barros em 18/08/2014
Código do texto: T4927852
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