Lembrança perdida
Toda manhã ele estava olhar no vazio, não vendo ninguém. E, na verdade, ninguém o via também. Era assim todos os dias, ninguém preocupado em parar para olhar para ele. Talvez tenha tido uma história bonita, talvez alguém importante, diferente de hoje. Mas aquela manhã foi diferente, alguém se interessou por aquele olhar vazio. Uma criança curiosa.
- Mãe, quem é Coelho Neto?
- Foi um escritor, romancista, teatrólogo. Ocupou a cadeira número dois da Academia Brasileira de Letras. Mas hoje, filho, é só um busto de bronze, esquecido numa praça de bairro.
Não sei se foi impressão minha, mas aquele olhar vazio pareceu sorrir.