boulevard montmartre, 84

O pai nunca conhecera e a mãe e os cinco irmãos sumiram após um sono vespertino prolongado. Ser órfã não lhe doía tanto quanto a carência de algumas definições, afinal, desconhecia outros propósitos além de revirar latas de lixo aonde encontrasse qualquer coisa que lhe aliviasse a dor de barriga. Aquele foi um dia estranho, não sabia o por que daquilo tudo, mas percebeu por algum motivo ser alvo do esquadrão da morte. Eles cheiravam a ódio e seus olhares eram rubros de maldade. Correram hostis em sua direção, correu também. Cercaram-na no universo finito e estreito de uma viela aonde tudo terminava em muro alto: e agora! e agora? Esguia, leve e rápida feito o vento saltou, espetáculo de acrobacia, unhas no tijolo e o rabo lhe prestou o equilíbrio. alcançou o cume inatingível e ficou em cima do muro (o que pra alguns seria falta de caráter). Naquela altura, enxergou seus algozes distantes e inconformados, viu os dois lados do muro e descobriu opções. Sua silhueta sinuosa rompia o circulo prateado do luar. Percebeu que sua presença incomodava, e isso era novo, decidiu que não tinha vocação para se explicar, melhor mesmo era confundir. lambeu as pernas desapressada para um voyer de janela aberta fumando cachimbo

daniel mafra
Enviado por daniel mafra em 20/06/2014
Reeditado em 21/06/2014
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