boulevard montmartre, 84
O pai nunca conhecera e a mãe e os cinco irmãos sumiram após um sono vespertino prolongado. Ser órfã não lhe doía tanto quanto a carência de algumas definições, afinal, desconhecia outros propósitos além de revirar latas de lixo aonde encontrasse qualquer coisa que lhe aliviasse a dor de barriga. Aquele foi um dia estranho, não sabia o por que daquilo tudo, mas percebeu por algum motivo ser alvo do esquadrão da morte. Eles cheiravam a ódio e seus olhares eram rubros de maldade. Correram hostis em sua direção, correu também. Cercaram-na no universo finito e estreito de uma viela aonde tudo terminava em muro alto: e agora! e agora? Esguia, leve e rápida feito o vento saltou, espetáculo de acrobacia, unhas no tijolo e o rabo lhe prestou o equilíbrio. alcançou o cume inatingível e ficou em cima do muro (o que pra alguns seria falta de caráter). Naquela altura, enxergou seus algozes distantes e inconformados, viu os dois lados do muro e descobriu opções. Sua silhueta sinuosa rompia o circulo prateado do luar. Percebeu que sua presença incomodava, e isso era novo, decidiu que não tinha vocação para se explicar, melhor mesmo era confundir. lambeu as pernas desapressada para um voyer de janela aberta fumando cachimbo