pássaros da estação
Procurando manter o silêncio imperioso da madrugada, luiz respeitou a escuridão do quarto corrompida apenas pelas poucas luzes da rua que as cortinas e a janela permitiam. Tirou os sapatos, a roupa, avizinhou-se da cama e tocando o ombro da esposa com a mão áspera disse num sussurro carinhoso Àqueles ouvidos desatentos: " Telma, eu tenho algo pra lhe contar, mas acho melhor deixar pra amanha tudo bem?". O sono tornava tudo tão distante e difícil que ela sem grandes dificuldades aquiesceu de rosto inerte e olhos ocultos sob o véu denso das pálpebras. Dormiram, as palavras ecoaram a noite inteira através dos sonhos de Telma feito pássaros imigrantes e águas frias de rios estreitos confinados em matas esquecidas. Ela acordou percebendo a ausência do marido ao seu lado. O incandescer do sol dominava o outono. claudicante foi a cozinha, ligou a água para fazer um café e estranhou o fato do café já não estar pronto. procurou luiz através da casa, chamou o seu nome, abriu a porta de casa e nada. voltou ao quarto e já em seu peito um pano de chão encharcado se torcia até sangrar em lágrimas de tristeza e solidão. O guarda roupa estava vazio, não haviam sapatos nem fotografias, desesperado um canário invadiu a casa sem encontrar saída, ela se abaixou tentando se defender do pássaro assustado e nisso se ajoelhou e encontrou um bilhete ladeando o abajur dizendo: agora é tarde, seja feliz