DESERTO, ESSE É O LUGAR
Dessa vez deixou para trás as ruas iluminadas, o agito na praça, os amigos na balada. Conseguiu cancelar participações em eventos, enfim pode se "libertar" dos compromissos que antes eram inadiáveis, fugiu dos familiares e buscou refúgio longe de tudo e de todos. Depois de muito apanhar da vida, reconheceu que havia chegado o momento de parar. Seu corpo e sua mente haviam chegado à exaustão. Seu coração estava cansado, batendo descontrolado, ora ofegante, ora quase parando. Tinha muito medo de morrer, desde criança, quando assistiu à morte dos próprios pais durante uma grande enchente na cidade. Caminhou silenciosamente cerca de 15 minutos até chegar no deserto, local escolhido para aquele momento especial de meditação... Durante o trajeto ia pensando nas bobagens que fez inúmeras vezes, sem pensar nas consequências que teria de carregar pelo resto de seus dias. Em seus pensamentos passavam cenas de filmes de sua vida, momentos em que travou fortes discussões com seus irmãos e avós, quando os mesmos tentavam "abrir-lhe os olhos" mediante perigos à vista, que só ela não enxergava. Situações que em nada iriam lhe favorecer, mas acabava sempre ouvindo apenas a voz do coração, e o prejuízos eram inevitáveis. Sofreu tantas perdas, perdeu muitas noites de sono e isso lhe fazia render cada vez menos no trabalho. Os anos passaram tão depressa! Somente há poucos dias dali, se dera conta de quantas rugas seu rosto havia ganhado e como sua juventude ia ficando para trás. Suspirou longamente e percebeu como o tempo é efêmero e não espera por ninguém, não faz retorno, em sua estrada, talvez nem exista curvas. Bastante cansada, os pés doloridos, já não conseguia ficar de pé. Estendeu a echarpe que levava sobre os ombros, havia ganhado de presente de um antigo namorado. Ali despreocupada dos afazeres cotidianos, lembrou que estava na Semana Santa. Nem havia lembrado disso antes. Era a primeira vez que se recolhia para pensar na vida e, quem sabe, pedir perdão pelos erros praticados, pelo bem que não fizera, mesmo tendo tido oportunidades e condições para fazê-lo, preferiu ser omissa. A brisa fresca do anoitecer lhe fez relaxar e adormecer. Lá pelas tantas, já de madrugada, seu corpo em contato com a frieza da areia já não lhe pertencia mais. Jamais imaginou que pudesse um dia ter o deserto como jazigo perpétuo.
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Ísis Dumont
Para você que é tão especial e, por isso, mora no meu coração!
Teadorooooooooooooo!!!!!!!!!!!
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