FAZENDO COMPANHIA
Branca era uma senhora já idosa, adorava a companhia de alguém, adorava estar perto das pessoas que amava e gostava muito de contar coisas sobre a sua vida. Certo dia, o rapaz que fazia entregas de pizza, bateu em sua porta e a senhora Branca gritou lá de dentro:
-Pode entrar meu filho!
O rapaz pediu educadamente licença e entrou. Disse:
-Aqui está senhora Branca, uma pizza de calabresa!
-Muito obrigada meu filho! Venha, sente-se e se sirva!
Ela foi o aconchegando na cadeira enquanto ele contra-dizia:
-Não senhora Branca, obrigada...
Mas ela insistiu e o rapaz teve de se sentar.
-Por que não me faz companhia enquanto meu marido, Antônio, não chega?
-Eu adoraria senhora Branca, mas...
-Oh, que bom! Venha! venha! Vou lhe mostrar umas fotografias de quando eu era jovem.
-Mas...
O rapaz sabia que tinha muitas entregas a fazer, mas que mal faria fazer um pouco de companhia àquela pobre senhora? Então ela veio com o álbum de fotos e foi retratando cada momento. No ponto de vista do rapaz, a senhora Branca era de certeza muito elegante e bonita durante a sua adolescência, eu disse "durante sua adolescência"! Mas com certeza o tempo não perdoa.
As horas iam se passando e o rapaz olhava para o relógio na parede que já marcava dez horas. Ele já estava com pressa, mas sempre que tentava se despedir a senhora Branca lhe puxava pelo braço e o levava para algum canto da casa onde guardasse muitas lembranças.
-Senhora Branca eu...
-Veja, meu rapazinho, este castiçal era de minha vó. Não é lindo?
-Hum...
-Agora olhe este conjunto de xícaras, eu o ganhei na véspera de casamento!
-...
-Veja este desentupidor de privada...
-Senhora Branca!
-Diga meu filho!
-A senhora me perdoe mas eu tenho que ir agora!
-Está cedo meu filho, não vá agora. Eu ainda nem te mostrei meu bauzinho de jóias da mamãe! Venha, vou te mostrar.
Passaram-se horas e horas, o rapaz já não tinha eutimia e ficava olhando para o ponteiro marcar as horas no relógio. E quando já passava das duas da madrugada, a senhora Branca ainda continuava conversando sobre a sua infância, e o rapaz, coitado, já bocejando, esfregou os olhos de sono e esticou os braços. Vendo a hora que já era, ele teve de falar, interrompendo a conversa:
-Nossa, o seu Antônio está demorando a chegar, não é?
-É.
E meio sem jeito ele perguntou:
-Por que será?
E a senhora Branca olhou-o com um sorriso singelo e disse-o:
-Esta é a mesma pergunta que faço desde que ele faleceu.