A MORTE DO PAPAGAIO
— Alô!
— É da casa do Doutô Epaminondas?
— Sim! Está falando com ele!
— Doutô, aqui quem fala é o Juca Neca, capataz do seu haras.
— Uai, Juca, que aconteceu?
— Doutô, tou lhe telefonando pra lhe comunicá que o papagaio morreu.
— Ora, Juca! Você me tira da cama às 3 da madrugada pra me falar que o papagaio morreu! Tive um dia cheio, fiz mais de quatro cirurgias, e você me vem com essa! Aliás, o papagaio estava com mais de 15 anos, já estava na hora dele bater as botas.
— Pois é, dotô. Mas tou lhe telefonando por causa da morte dele.
— Ele morreu de quê, Neca?
— Morreu de comer carne estragada, dotô.
— Puta merda, Juca, que história mais maluca. Estou precisando voltar pra cama, repousar, e você com esta maluquice. Que besteira de carne estragada é essa?
— Pois é, doutô. Ele cumeu a carne do seu cavalo Árabe.
— Carne do cavalo Árabe? Mais que coisa mais doida. Que aconteceu com o Árabe?
— Morreu, dotô.
— Puta que pariu, Juca. Morreu do quê?
— De cansado, dotô.
— Mas cansado de quê? Era o melhor cavalo do haras, reprodutor sem igual. Vivia só no pasto, tranqüilo. Cansado?
— É, dotô. Cansado de tanto puxá água.
— Puxar água pra quê, aí no haras tem água encanada pra todo lugar.
— Pra apagar o incêndio, dotô.
— Que incêndio?
— Na casa sede, dotô.
— Juca, Juca... Que loucura é essa? Como é que a sede pegou fogo?
— Foi purcausa das velas, dotô.
— Que velas?
— Do velório, dotô.
— Velório. Que velório? Quem morreu?
— Velório da véia, dotô.
— Velha? Que velha?
— Óia, dotô, vou falá de uma vez. A véia que chegou aqui de noitão, pra mais de meia noite, foi entrando assim sem mais nem menos. Pensei que era ladrão, peguei a cartucheira e preguei dois tiro nela. Vai vê, era a senhora sua mãe.
Antonio Roque Gobbo - Belo Horizonte - 2 de setembro de 2000