OLHOS DE GATO
Ali estava, imóvel, distraía-se com o soar do ponteiro, marcando as horas no relógio posto à parede. Os olhos eram luzes na escuridão, sempre bem abertos e movia a cabeça de um lado para o outro acompanhando o ponteiro. Não emitia nenhum som, apenas mantinha-se bem atento ao seu espaço. O silêncio fazia ouvir os grilos cantarem por entre as ruas e o vento soprava contra a cortina. Preferia ausentar-se de todos, tal hora lhe convinha carinho e atenção, mas por muitas das vezes gostava de está assim, só, longe de qualquer caricia e palavra. Percorria a casa em passos silenciosos, pulava o sofá e deitava-se no tapete bordado no chão da sala, os cômodos vazios, as luzes apagadas, o frio atravessava a casa e arrepiava sua pele negra. O relógio já marcava 21:00h, foi quando sentiu a noite abeirar-se em si. salta a janela da sala e segue para fora, os dois lados da rua vazios, mas procurou um lugar por entre os telhados da casa e junto à lua ficou plantado lá no alto, ouvindo o silêncio ocupar os becos escuros. E era sempre assim, quando a noite chegava sempre estava ali. A luz da lua resplandecia em sua face e refletia uma noite fria e solitária em seus olhos de gato.