QAUNDO SE ESTÁ SÓ

Toda manhã, e foi assim por muito tempo, saia sem eira nem beira. Quando indagada aonde ia, não tinha jeito, respondia com tanta veemência e aos gritos, que o interlocutor, para sua saúde física e auditiva, nunca mais a interpelava. Assim foi por muitos e muitos anos. De modo que, quando se dera conta, todas aquelas pessoas já haviam partido; umas para o além, outras, para outros lugares mesmo. E assim foi vivendo, cada vez mais, mais velha e sozinha, até, que certo dia, defronte ao espelho, perguntou se ninguém se importava com ela. Fez silêncio, e ela, sem resposta, chorou: não havia mais com quem gritar.