A CURA

Como eu agia? Eu fiz tudo que um pai macho poderia fazer. Levava todo domingo ao campo de futebol. Mostrava revistas e filmes pornôs. Apontava as gatinhas na rua. Fiz tudo! Tudo! Não entendo como isso foi acontecer. Lamentava o pai de Alfredo.

Um jovem de 27 anos, dentista, o melhor atacante da pelada do bairro e único filho do viúvo. Quando adolescente, não entendia porque não sentia os desejos sexuais que os colegas confessavam. E sofria a silenciosa agressão com as revistas e filmes impostos pelo pai. A primeira ereção que sentiu não foi acordada por dois seios lindos, pontudos, mas um peitoral cabeludo e malhado que nem se deu conta dos desejos despertados num garoto de 15 anos. Dois anos depois, foi paquerado por um colega da escola. Para tristeza do pai: curtiu e compartilhou. Assim que descobriu, levou o filho ao psicólogo. Precisava ser curado. Dez anos de terapia, Alfredo teve alta e resolveu oficializar a relação com o seu primeiro e único amor. Mas eles agora querem casar, doutora, eu não vou aguentar. Tenha paciência, seu Afrânio, é doloroso, complicado, mas o senhor vai se curar, homofobia tem cura.