O PARTO (Série Palavras Proibidas)

A anestesia de nada serviu. O miserável ordenando: abre! Abre mais! Calma! Respire! Tá quase! Já tá saindo! Ainda me pergunta, sem tirar a seringa da minha boca: tá doendo? Porra, como eu poderia responder? Aquilo não deveria ser um dentista. Mas um desses cientistas loucos, modernos, que implantam memórias na cabeça dos outros: ele fez um parto pela minha boca. Dei a luz a um filho que me causou tanta dor na gestação, que ao nascer joguei fora. Sou capaz de me ver grávido. Entrando na sala. Deitando na cadeira e parindo violentamente. Pronto, consegui! Daqui há dois meses você volta para dar início ao processo de implante. Não olhei para traz. Parei no boteco para desimplantar minhas memórias traumáticas.