PRAIA

--Ninguém vai te amar como eu te amei! Nunca!

Passados tantos anos, aquelas palavras reverberavam na mente e no coração da pobre menina, que tentava caminhar na pesada e quente areia da praia. O marulhar das ondas, o ruído dos automóveis, os gritos das crianças brincando á beira d'água, nada, nada disso parecia abafar aquela voz que se fazia ouvir em seus ouvidos, como quem roga uma praga, mas na verdade, declara uma profecia.

É bem verdade que teve tantos garotos depois daquele, mas nenhum deles com o sorriso, o olhar e a entrega que experimentara em seus braços, o que reforçava mais ainda aquelas palavras que faziam eco em sua alma:

"Ninguém...Nunca...."

Por mais que tentasse, sua existência fora alvo de um amor sem precedentes, algo que jamais experimentara e jamais experimentaria no futuro. Tinha medo, justificadíssimo, de não conhecer aquele sentimento de novo, porque sabia que despedir-se de um amor é como se despedir de si próprio, do investimento emocional que fizera através de flores, canções, taças de vinho e pensamentos.

Por isso, continuava a caminhar pela areia, o sol agora já se pondo e a brisa salina penetrando em suas narinas, deixando o gosto de sal que a fizera relembrar o beijo e o suor de seu ex e eterno amor. Não tinha mais perspectivas para viver nesta penumbra, neste eclipse que seu coração vivenciaria dali para a frente, apenas fitou o mar e caminhou, lentamente sobre a água morna do fim de tarde: tornozelos, joelhos e por fim o peito, onde deixaria o coração afogar-se em uma saudade imensa. E a linha do horizonte sem-fim foi a última visão que levou desta vida.

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 13/05/2013
Reeditado em 13/05/2013
Código do texto: T4288429
Classificação de conteúdo: seguro