PELA METADE

Talvez um dia eu saiba no que vai dar essa coisa de ficar participando da vida de minha vizinhança, assim dessa maneira. Só que eu não resisto a uma altercação de vozes no apartamento ao lado. Dizem coisas que eu nunca suspeitaria de outro jeito, a não ser de ouvido colado na parede. Até me ensinaram a colocar um copo, feito estetoscópio. E foi assim que eu soube que um dia o pai de Raquel disse pra ela “se é assim, pode ir embora, sua...”, mas só que eu tinha encostado o copo muito tarde e perdi o melhor da história. No outro dia Raquel já estava indo, cara de sono, porque era de manhã bem cedo. Vizinho nenhum dá plantão nessa hora. Só eu mesmo pra ser assim tão besta de ficar olhando a Raquel ir embora, sem nem saber direito porquê!