AS DORES DE MARIA
— Não vou contar tudo.
A voz chorosa de Maria quebrou o silêncio no consultório do renomado psicanalista. E, a partir daquele instante, fragmentos da história de uma mulher avessa a confrontos seriam revelados num ritmo vertiginoso. Casada pela segunda vez com o mesmo homem — nem todos se rendem à experiência —, era constantemente hostilizada pela família do marido. Sua passividade, capaz de irritar um monge budista, tornou-a o alvo predileto da sogra e da cunhada. Sem mencionar a enteada, disposta a transformar sua vida numa amostra grátis do inferno. Se ao menos Maria tivesse alguma habilidade para lidar com o ciúme controlador daquelas mulheres ensandecidas, talvez a história fosse outra. Mas a verdade é que a coleção de dissabores cobrou seu preço: gastrite, hipertensão e diabetes. O marido, insatisfeito com tamanha fragilidade, passava a maior parte do tempo ausente de casa, em viagens de negócios. Carente e infeliz, Maria tentou encontrar um sentido para as dores de seu vazio num site de relacionamentos sadomasoquistas. Resultado: foi seduzida por um dominador de quinta que a chantageou com fotos comprometedoras. Vários cheques depois, caiu em depressão. Não sentia mais vontade de viver. O psicanalista, que passava por uma crise aguda de sensibilidade, encerrou a sessão pensando com seus botões: "Ainda bem que ela não contou tudo".
(*) ESTE CONTO É RESULTADO DE UM
EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA
EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA
(*) IMAGEM: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net