AS DORES DE MARIA







 Não vou contar tudo.

A voz chorosa de Maria quebrou o silêncio no consultório do renomado psicanalista. E, a partir daquele instante, fragmentos da história de uma mulher avessa a confrontos seriam revelados num ritmo vertiginoso. Casada pela segunda vez com o mesmo homem — nem todos se rendem à experiência —, era constantemente hostilizada pela família do marido.  Sua passividade, capaz de irritar um monge budista, tornou-a o alvo predileto da sogra e da cunhada. Sem mencionar a enteada, disposta a transformar sua vida numa amostra grátis do inferno. Se ao menos Maria tivesse alguma habilidade para lidar com o ciúme controlador daquelas mulheres ensandecidas, talvez a história fosse outra. Mas a verdade é que a coleção de dissabores cobrou seu preço: gastrite, hipertensão e diabetes. O marido, insatisfeito com tamanha fragilidade, passava a maior parte do tempo ausente de casa, em viagens de negócios. Carente e infeliz, Maria tentou encontrar um sentido para as dores de seu vazio num site de relacionamentos sadomasoquistas. Resultado: foi seduzida por um dominador de quinta que a chantageou com fotos comprometedoras.  Vários cheques depois, caiu em depressão. Não sentia mais vontade de viver. O psicanalista, que passava por uma crise aguda de sensibilidade, encerrou a sessão pensando com seus botões: "Ainda bem que ela não contou tudo". 




 
(*) ESTE CONTO É RESULTADO DE UM
EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA




 
(*) IMAGEM: Google
 
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 29/04/2013
Reeditado em 02/09/2014
Código do texto: T4265424
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