Medo de Existir
Era carnaval. Uma tropa jovem barulhava minha leitura matinal no banco da praça. Bíceps mal assentados cuspiam vantagem, relatando conquistas, como se soubessem sentir. Grisalho de um casamento vencido, fugia dos berros conjugais, silenciosos, injustos, insanos, amaciavam o desgosto da esposa e já nem me feriam. Temi chacota quando um olhar juvenil me despia o olhar estéril. O charme ousado da garota clamava por decência e atenção, mesmo que se rejeitando, todo maculado. Já sem pulso, calvo de atos e fatos, retirei-me caseiro, suicida e ilibado, raspando os chinelos com passos bucólicos para a tortura do lar.