ALIMENTO NÃO PERECÍVEL
Estão preparando um grande espetáculo musical. Mahal, um dos cantores mais populares do país fará uma apresentação beneficente. Basta levar um quilo de alimento não perecível a um posto de troca e obter o ingresso.
Num dos postos forma-se uma grande fila, mas os atendentes são eficientes e o tempo de espera é mínimo. Entretanto, um pequeno incidente atrasa a distribuição dos ingressos.
Um homem alto, cinquenta anos, mais ou menos, barba por fazer, camisa bege e calça de brim, entrega um pequeno pacote à atendente. Ela abre o pacote, sorri e diz ao simpático fã do cantor Mahal:
– Meu senhor, desculpe, mas não posso lhe fornecer o ingresso. O senhor deveria trazer um quilo de alimento não perecível...
O homem parece calmo e ponderado.
– Ora, eu trouxe alguns livros! E pode pesar; tem mais de um quilo. A senhorita não sabe que livro é o principal alimento não perecível?
A moça fica embaraçada.
– É... Mas a gente quer dizer arroz, feijão, macarrão, farinha...
O homem desiste. Pega seus livros e sai resmungando:
– Ah! O povo que não usa o livro nem como tira-gosto vai sempre roer o osso que algum tirano caridoso lhe atirar...
E parte, obviamente, sem o ingresso.
(MAURICIO C. BATISTA) (IN MEMORIUM)
RESERVO ESTE ESPAÇO PARA HOMENAGEAR O GRANDE POETA E AMADO MAURICIO COM MAIS UMA DE SUAS OBRAS, E QUE HOJE SE ENCONTRA NO PLANO ESPIRITUAL.