Trancada

Estava ali parada, em frente daquela porta há alguns dias. Não saberia dizer quantos. Estava tão acostumada a entrar por ela que já nem mais batia ou fazia-se avisar. Simplesmente entrava. A porta dava para uma casa velha com um jardim mal cuidado, cheio de mato e plantas espinhosas que arranhavam-na todas as vezes que por elas passava. Dizer que gostava de tal cenário seria muito, mas era conhecido. Sabia onde estava cada pedra, cada planta, cada tábua solta dos degraus que conduziam-na para dentro da desoladora habitação. Também conhecia seus moradores, alguns cordiais, eram bem poucos ultimamente, outros hostis, tratavam-na com desmerecido desprezo. Mas estava acostumada a tudo. Naquela manhã, há dias atrás, encontrara a porta fechada. Tentara várias vezes abri-la, chamara, batera, implorara, sem que obtivesse qualquer resultado. Continuaria ali, sentada, pois suas pernas já estavam cansadas, até quando?