Baile de estrelas.
Ainda sonolento, desceu do trem e procurou saber onde estava. Dirigiu-se ao balcão e indagou: - Onde estou? Com um ar sisudo, um tanto desconfiado, o olhar vazado entre as sobrancelhas e o velho óculos opaco, o atendente responde: - Mas ainda nem chegamos, como queres saber onde estamos? Sabes de onde vindes? Por acaso sabes aonde queres ir?
Recolhido em sua pequenez, senta-se no banco e ver o tempo passar, a estação num frenesi dos que chegam e dos que saiem dar impressão que pouco importa saber onde estamos, se nem sabemos de onde viemos, nem aonde vamos.
Descobre que tudo é relativo, se você chega ou vai, pouco importa, o trem é o mesmo. O importante é onde estamos. Como saber?
Ninguém parece preocupado se você chegou ou se vai. É como um jogo onde os argutos e manhosos mudam as aparências para vencer, mesmo que algo ou alguém seja esquecido na estação da vida.
A aquela estrutura de ferro do teto, com brechas que deixam vazar a luz do sol que vai pontilhando o assoalho desgastado pelos passos dos que chegam e dos que vão, como num transe hipnótico reitera de que partir ou chegar depende mais de onde viemos ou aonde vamos, do que onde estamos.
Mais tranquilo, imaginando ser um baile de estrelas, deixa-se pintar pela luz do sol, deita a cabeça sobre a bolsa e dorme . O tempo não passa.