O CONTO E O PONTO
Certa vez escrevi um conto. Foi o primeiro dentre os poucos que perfazem meu cabedal de escritos. Julgando ter tido uma boa ideia, entusiasmei-me: eu, autor de um conto, que coisa louca.
Mas não foi fácil. Mergulhado no mar das letras, senti-me como um barco à deriva. Sabendo tantas palavras, como escolher as certas, e como combiná-las?
E a pontuação, que droga. Frases longas pedem muitas vírgulas, em algumas vai um "ponto-e-vírgula". E as reticências sempre são necessárias para dar um toque de mistério. É pelas reticências que o leitor entende o que está nas entrelinhas.
Nos diálogos, usei travessões, pontos de interrogação e de exclamação. Aí me dei bem. Escrevendo, apagando, escrevendo, formei muitas frases.
Não criei metáforas, desenvolvi a trama com os parcos recursos de meu talento. O que queria mesmo era chegar ao final. Terminar a coisa e respirar.
Para o final, era uma só a ideia. Mas na minha cabeça eram tantas as palavras, nos meus dedos eram tantas as vírgulas, as exclamações e as reticências.
Enfim acabei. E sabe como? Com um simples ponto, ao qual chamei de "ponto final". Tanto esforço para chegar ao tal ponto.