Primeira dose
Andando trôpego, tremule, suado, pegajoso, entrou no bar aos tropeções, todo desorientado, estava com o corpo muito dolorido pelas câimbras que sofrera de madrugada e sujo, não conseguiu tomar banho. Encostou-se ao balcão, uma barata escondeu-se debaixo da estufa. Cheiro de mijo, segurou o vomito com força. Pelo jeito nínguem limpou o banheiro. Atirou umas moedas, sem conseguir contar, no balcão. “Ei Zé! Dá logo uma bebida pro Fernando, olha o estado dele”. A barata saiu debaixo da estufa e num movimento rápido voou em direção ao Fernando, sua tremedeira quadriplicou, se sentiu gelado, medo. “Ei Fernando, o que vai hoje?”, foi difícil falar, tomou fôlego, a respiração estava pesada, “Bo.. boo.. boo.. ta du du... dupla...”. O Zé colocou a dose gigantesca, até a borda do copo, Fernando abaixou a cabeça sugou o excesso para não derramar, sua visão escureceu, viu borrões azuis sobrepondo-se as imagens. Quando pegou o copo, sentiu que estavam todos olhando para ele, aumentou seu nervosismo, pânico. Tremeu tanto que derramou a dose, molhou sua camisa toda de pinga, fedor alcóolico, vapor invisível. “Bo... bo... bota outra...” Dessa vez, se concentrou bastante, pegou o copo com as duas mãos e virou de uma vez goela abaixo. Intensa satisfação instantânea! O líquido quente, ardido, passou pelo esôfago, relaxou o estomago, espalhou ondas de calor prazeroso em seus músculos, o tremor cessou, a mente voltou, a realidade se fixou, sentiu o pavor amainar, suspirou de puro prazer, arrotou deliciosamente, não fez cara feia, júbilo. “Me dá outra pinga, agora é pra firmar!”. Todos riram, seu Zé botou outra dose até a borda, Fernando virou, “Ei cara! Tem uma barata no seu cabelo!”.