______TÁBUAS_______
Um homem sentado na areia. Contemplava, absorto, o eterno vai-vem daquela calma imensidão. Nada pensa, tudo é sensação. Por vezes, borbulhantes espumas envolviam-lhe os pés. As águas orquestravam seus sustenidos e bemóis. Aquareladamente, aproximava-se o crepúsculo. Gaivotas deslizavam os últimos voos... Um último mergulho?
E ele mergulhou... não no mar, mas em si. Esquecido de que mal sabia nadar, desceu a abissais profundezas, onde jaziam naufrágios. Debatia-se e subiu, caindo em alucinante rodemoinho. Agarrou-se então a algumas tábuas que flutuavam, construindo frágil sustentação. Flutuava naquela improvisada jangada...Encontrara-se com muitas imagens...
Foi então que percebeu que aquelas tábuas eram seus antigos, mais recônditos versos, em desordenada composição, jamais publicados.
Aturdido, surpreso e já livre de si, levantou-se e entregou seu corpo ao mar. O homem era um poeta...
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Texto dedicado a David S. Waisman, que só recentemente descobriu-se escritor "exteriorizado", e, como num "milagre", (segundo suas próprias palavras), revelou-se e tem produzido excelentes obras. Também o dedico A TODOS aqueles, que, subita e incontidamente, lançaram-se na escrita, exteriorizando seu interior e traduzindo a realidade com outro olhar.
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