DAS TENDAS
(In memoriam de uma vida em comum, que parece ter sido em outras vidas, de tão longínquo que tudo semelha estar, meu sempre caríssimo J. L. – espero que estejas bem)
Eu ouvia versos dos Cânticos dos Cânticos e a minha alma e o meu corpo eram cântaros à tua espera. Eu me dizia para ter calma, que ainda não era chegado o tempo. Meu amor habitava um cavalo branco que cintilava à luz do deserto e nele, neste cavalo, ele, o cavaleiro, me devia levar àquele outro, com todos os seus direitos, àquele que me esperava na cidade muito longe das tendas. O cavaleiro dava voltas e voltas como quem indaga ao Deus, ao seu Deus Supremo, enquanto eu rezava numa Língua estranha, para que todos se quedassem protegidos. Lembrei-me então do meu companheiro antigo e de sua fala em um texto: “Alah, el onisciente, nunca duerme.” Ah, perdoa-me, perdoa-me, eu pedia, enquanto o cavaleiro sobre o cavalo branco continuava a dar voltas ao redor da tenda, ao redor do deserto de enigmas, essas para sempre ruas sem saída.
Interação para o poema O AMOR, de TONY BAHIA.
No início da madrugada de 26 de setembro de 2012.