Vida de Aquário

Filha única, cresceu naquela chácara com jeitinho de presépio. Tudo florido, simples e leve como um templo hindu. Educada de perto, aprendeu a ler e somar com os próprios pais, que em seus gestos simbólicos, amavam e brigavam em libras. Tinha como distração o aquário da sala. Quando entediada, cortava a superfície aquosa, fitando os paulistinhas, em céleres repentes. Caçoava do acará-disco, incoerentemente balofo e fino e gargalhava silêncios com o rubor desproporcional dos japoneses, meio clichê. Envergonhou-se toda juvenil no dia em que se assustou com a borbolha de oxigênio; era ouvinte.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 29/08/2012
Código do texto: T3855587
Classificação de conteúdo: seguro