METÁFORA

Ela queria ser livre, seu maior sonho era saber os segredos do mundo, conhecer lugares distantes, pessoas diferentes, saber o que havia do outro lado do muro... desde brotinho ali naquele galho baixo, desprivilegiado ela invejava as irmãs que do alto podiam enxergar o mundo todo, e invejava mais ainda aquelas que eram colhidas pelo vento e sumiam flutuando no horizonte...

Depois de tanto esperar, sonhar, imaginar seu corpo começou a perder o verde intenso da juventude e a tornar-se amarelado. Em uma fria tarde de outono ela se libertou, depois de um vento forte simplesmente se desprendeu e voou, plainou lentamente sobre o muro, sobre o lago escuro, sobre o jardim de grama verde, sobre o casal que discutia no banco, sobre o asfalto, então tocou suavemente o concreto bruto e rolou, arrastou-se ainda sob influência do vento quebrando as beiradas ressequidas do seu corpo, rolou e rolou em sobressaltos até a beirada da rua onde ainda restava água da chuva do dia anterior, sentiu seu corpo embebido pelo líquido escuro...

O sol brilhou intensamente no dia seguinte e a água cumpriu o que lhe foi designado pela natureza, subiu as nuvens. A folha permaneceu já exibindo em sua transparência finas veias marrons. O vento soprou forte naquela tarde e ela seguiu seu rumo entre as crianças da praça e os carros da rua, e finalmente parou... parou em uma poça pegajosa e morna... pés apressados se foram... mas alguém a observava, olhos grandes e calmos pairavam sobre si, e ela entendeu... sentiu inveja das folhas novas presas ao galho baixo de uma árvore ainda menor do que a que estava antes... seu mais novo companheiro se foi, e ela permaneceu em silêncio, imóvel.

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 11/07/2012
Código do texto: T3772336
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