ONÍRICA

É um mergulho. Filetes de luz dourada chamaram-lhe a atenção quando abriu os olhos. Lá fora, o barulho dos banhistas buscando acertar o passo do funk, e pensou: teria ainda o reflexo de recém-nascido para evitar que a água lhe inundasse o peito? Conseguira manter-se afastada da emoção, essa sim capaz de afogá-la, roubar-lhe o chão, provocar abalos. Entretanto, ultimamente, dava-se conta entre um suspiro e outro, já não era assim. Curiosamente , viver não se tornara mais difícil, embora às vezes, desejasse ardentemente conhecer “o caminho das pedras”. Tão mais fácil...! Ondulou o corpo para avançar um pouco mais, não precisava muito. Boa a sensação de fluir entre as pessoas como se sempre soubesse o que fazer e o que dizer a elas. Nem o barulho incomodava. Inexplicavelmente adquirira maestria para mover-se desviando dos mais eufóricos e antecipava a chegada com certo pesar. Paredes são sempre paredes... Estirou o braço (tantas vezes tão curto!) e aflorou suavemente, oferecendo o rosto ao sol. Súbito, pareceu sufocar, a vida e a luz entrando pelos poros, pelas narinas, pelas retinas...Cataclismos acontecem. Quando menos se espera!

22/01/02

15:15 horas.

Raquel DPires
Enviado por Raquel DPires em 09/06/2012
Código do texto: T3715199
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