Olhos de Borboleta
Tenho olhos de borboletas vermelhas entorpecidas de álcool e de lágrimas. Esse sangue espesso cujo fluido é espinho circula por entre ruas e praças juntando pedaços. E ao iluminar o aquário com certa felicidade inebriada, os peixes que ainda e sempre seriam peixes começaram a destoar um do outro. Mas um dia a água cuja existência revela as imperfeições acaba por acabar. Submerso nas fugas da vida, a solidão nos come por dentro a quase transbordar. Esse sujeito repleto de porquês sem respostas não aprendeu a lidar com a materialidade e com as circunstâncias. Ele discursa pra si, o que não resolve merda nenhuma. As pessoas são o ferro fundido emprestado à lança; um empréstimo por tempo indeterminado. As estatuas sorridentes emprestam-me o silêncio e a loucura mórbida. Tête-à-tête com as figuras tenebrosas de meus sonhos. Isto nos levou ao desperdiço. Ia indo quando me deparei com a mortalidade; sou carne e desprezo, dentre outros ingredientes. O que faço? Vôo ou caminho?