Os Arquitectos do Tempo...

– conto baseado numa história minha “Os construtores do tempo”-

Nós somos o princípio e o fim das coisas, simplesmente porque estamos no princípio e no fim de todas as coisas…

Nós assistimos ao nascer e ao morrer de tudo, nós assistimos ao nascer e ao morrer das estrelas, das galáxias, e assim aprendemos que todas as coisas nascem e morrem no universo, desde as mais pequenas até às maiores, ninguém é imune ao tempo, nem o tempo a si próprio porque até o tempo acaba por se extinguir…

Como humanos que somos, tentamos prolongar ao máximo a existência temporal da humanidade, sabendo que ela se irá extinguir algures no tempo, mas originando ou exponenciando certos acontecimentos que lhe dê mais algum tempo…

Há uma linha temporal universal, comum a todos os seres, a todas as coisas do cosmos, uma linha que diversos cientistas humanos conseguiram conceptualizar de uma forma minimamente concreta…Certos e determinados comportamentos, quer conscientes, quer inconscientes, certas acções levam a que determinados acontecimentos tenham lugar, e é assim que se constrói o presente e por arrasto o futuro…

Ora se esses comportamentos, esses actos, forem alterados, o presente e o futuro serão obviamente diferentes…

A nossa prioridade, o nosso único objectivo é a preservação da espécie humana no futuro, fazendo com que o tempo não a mate da maneira que vimos matar…

E nós somos quem corrige por vezes tal, esses eventos, quando vemos que o que resulta de tal não é do nosso agrado, criando assim, desta forma, outros presentes, outros futuros, em consonância com o que queremos…

Pode-se dizer assim que nós moldamos a história, não a criamos propriamente, limitamo-nos a alterar pequenos eventos que se transformam em grandes eventos quando o tempo pega neles e os desenvolve…dando assim mais tempo a quem servimos, dando mais tempo à nossa espécie…

Muito tempo depois de lerem isto, algures no vosso futuro, a ciência humana evoluiu de tal forma que alguns dos postulados científicos, algumas das leis imutáveis mostraram estarem erradas, e foi assim, por exemplo, que viajar no tempo afinal era possível…

E assim conseguimos ver o começo de tudo, como tudo se desenrolava, e como tudo acabava…

Não nos agradando os efeitos do tempo natural na humanidade, decidimos moldar este de forma a preservar a humanidade e lhe dar o melhor futuro possível…

E assim começámos a alterar alguns eventos do tempo original, na linha do tempo original criámos e criamos a tal sequencia de eventos que proporciona à humanidade o que desejamos para ela, um futuro relativamente seguro para toda a espécie, assegurando que toda a espécie sobrevive mais tempo que no tempo original, no tempo natural…

Sim, temos consciência que violámos um tabu ao corrompermos o tempo original, mas que outra opção tínhamos ao ver que o tempo original proporcionava uma existência relativamente breve à humanidade…?

A nossa intenção quando descobrimos que era possível passear no tempo, era apenas essa, de passear e testemunhar os acontecimentos dele com os nossos próprios olhos, mas quando descobrimos a brevidade da espécie decidimos não sermos cúmplices de tal, decidimos alterar o que nos estava reservado, transformando-nos desta forma em insuspeitos arquitectos do tempo…

É uma tarefa gigantesca e inacabada, porque ao criar, alterar, um evento, temos também que alterar, corrigir as consequências nefastas e daninhas que essas acções podem desencadear, e por isso estamos sempre a corrigir esse tempo…

O preço de tal foi o sacrifício de quem altera o tempo, pois criámos uma espécie de “bolha temporal” onde somos imunes ao tempo, porque se assim não fosse, algumas das acções que desencadeamos poderiam fazer com que nunca existíssemos, pois essas acções podem fazer com que os nossos antepassados nunca tenham existido, logo nunca existiríamos, logo nunca poderíamos alterar a linha do tempo, logo a humanidade, sem a nossa intervenção, seria extinta num tempo relativamente breve…

E assim, dentro dessa bolha do tempo, imune ao tempo, deixámos de ser humanos, pois nada no universo é imune ao tempo…Menos nós, que nos tornamos invulneráveis…Claro que somos mortais, claro que envelhecemos, sendo substituídos por outros que continuam o nosso trabalho, mas para um humano normal, se nos pudesse ver, seriamos de certa forma imortais por estarmos em todos os locais, em todos os pontos do tempo, desde o seu começo ao seu fim…O que acaba precisamente por ser uma definição de imortalidade, embora na prática não o seja de facto, pela simples razão de envelhecermos, de morrermos, tal como tudo no universo…

Se necessário criamos uma nova linha de pensamento humano, uma nova religião, uma nova filosofia, que altera de forma irremediável a linha do tempo natural…

Alteramos apenas estes três vectores pois são estes vectores que governam a humanidade…

O que fazemos por vezes causa milhões de mortes, mas se não interviéssemos, se deixássemos o tempo natural agir por si só, as mortes seriam ainda em maior número…

Preservação da espécie…

Auto-preservação, o mais primário e importante dos instintos dos seres vivos, quer racionais, quer irracionais, o que condiciona mais o seu comportamento…

É disso que trata o nosso trabalho, mera preservação da espécie…

Em termos de imagem, para se visualizar melhor tal, nós criamos uma explosão para evitar uma explosão maior…

Como…?

Dando protagonismo a humanos que seriam anónimos, tornando-os relevantes na história, e assim alterando esta…Por exemplo…Uma dada pessoa se fosse, pelo tempo natural, por um dado caminho nada aconteceria…Nós fazemos com que vá por outro, onde conhece algumas pessoas que alteram a sua vida, a forma de ver esta, ou então pessoas que com esse humano alteram o curso da história, o que não aconteceria se esse humano tivesse ido pelo caminho que o tempo natural escolheu para ele…

Contudo isto nem sempre é possível, e nessa altura alguns de nós entram fisicamente na linha natural do tempo, do vosso passado e alteram este, seguindo um plano que delineamos previamente, no qual o resultado será precisamente obtermos mais tempo…

Alguns desses humanos, alguns de nós, ficaram na história que conhecem, quer como monstros, quer como heróis, tal depende dos acontecimentos do tempo natural que tivemos que alterar, mas uma coisa define todos, uma coisa que faria que fossem identificados se tomassem conhecimento profundo de quem são…: Não há uma sepultura, restos mortais, desses humanos, porque quando alteram o que tinham que alterar voltam para o seio da nossa equipa para continuarem a alterar o tempo, algures no tempo…De modo a que tal não seja aparente, criamos sempre histórias, geramos mitos que justifiquem essa ausência de corpos, mitos que com o passar do tempo se tornam a própria história real que figura nos vossos livros…

E não adianta pensarem em nós, nós somos invisíveis, nunca darão por nós, porque nós moldamos o tempo, sem darem por tal, porque o vosso tempo não possui alterações que possam notar, o vosso tempo é o que bem entendemos fazer dele, porque embora seja, como já referi, uma espécie de uma heresia às leis naturais do universo, nós não seguimos outra lei a não ser a que implique a preservação da nossa espécie humana, e fazemos tudo o que podemos, tudo o que estiver ao nosso alcance, como alterar o valor mais sagrado de todos: desvirtuar e alterar o tempo, para que todos possamos ter mais tempo…

Porque afinal, toda a existência de um ser, e por arrasto da sua espécie, se resume a isso…: ter mais tempo, apenas e tão somente isso…

Afinal sentimos que as nossas vidas são demasiado curtas, demasiado breves, por muito que vivamos, porque, por muito que façamos, quer numa hora, num dia, num mês, num ano, desejaríamos ter sempre mais tempo para tal…

“Nunca penso no futuro, ele chega sempre muito rapidamente…”

Albert Einstein

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 27/05/2012
Reeditado em 27/05/2012
Código do texto: T3690231
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