Um pequeno paraíso
Imaginem um pequeno lugar, um pequeno paraíso calafetado cuja existência foi de repente invadida pelo instante, o que deixava de lado o chato e o lápis de escrever linhas tortas. Imaginem a primavera guardada, as flores cujos pudores se abrem de súbito pela chuva que navega em risos da madrugada, o que deixa assaz elegante esse barulho lento do tempo. Podem supor o que era a minha vida. Os vícios, as noites na cama cujo lençol era de estrelas que sobravam de algumas danças, a visita ao amigo, o juntar de pedras, galhos, o que me tornava forte e, ao mesmo tempo, vulnerável às lágrimas. Vejo os vestidos vermelhos e as saias beges, os bares. Preciso estar bêbado. Imaginem um pequeno paraíso fugaz cuja existência foi de improviso construída entre quatro paredes de seda. E surge repentinamente dentro de mim a visão de fora. Imaginem um grande paraíso e um grande inferno. A crisálida transforma-se de ímpeto em borboleta cuja vida é de vento, o que causa a cicatriz do vôo cuja existência foi de repente instante, instante. Imaginem um pequeno lugar, um pequeno paraíso, enfim, ele se perdeu. Entretanto voei como pássaro.