Um pequeno paraíso

Imaginem um pequeno lugar, um pequeno paraíso calafetado cuja existência foi de repente invadida pelo instante, o que deixava de lado o chato e o lápis de escrever linhas tortas. Imaginem a primavera guardada, as flores cujos pudores se abrem de súbito pela chuva que navega em risos da madrugada, o que deixa assaz elegante esse barulho lento do tempo. Podem supor o que era a minha vida. Os vícios, as noites na cama cujo lençol era de estrelas que sobravam de algumas danças, a visita ao amigo, o juntar de pedras, galhos, o que me tornava forte e, ao mesmo tempo, vulnerável às lágrimas. Vejo os vestidos vermelhos e as saias beges, os bares. Preciso estar bêbado. Imaginem um pequeno paraíso fugaz cuja existência foi de improviso construída entre quatro paredes de seda. E surge repentinamente dentro de mim a visão de fora. Imaginem um grande paraíso e um grande inferno. A crisálida transforma-se de ímpeto em borboleta cuja vida é de vento, o que causa a cicatriz do vôo cuja existência foi de repente instante, instante. Imaginem um pequeno lugar, um pequeno paraíso, enfim, ele se perdeu. Entretanto voei como pássaro.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 14/05/2012
Código do texto: T3668084
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