A mudança
O caminhão parou em frente ao cortiço.
Sobre um arremedo de calçada completamente desfigurada vertia uma gosma fétida proveniente de uma manilha do esgoto que cedera junto ao muro. Um senhor de meia idade desceu e bateu palmas por cima do pequeno portão pintado de verde e amarrado com arame a um mourão que servia de pilastra. Uma senhora negra veio atendê-lo e depois entraram acompanhados por um rapaz franzino que estava no bar em frente.
Carregaram rapidamente meia dúzia de cacarecos, ajeitando-os sobre a pequena carroceria do caminhão.
O veículo deu a partida e, assim que começou a se movimentar, a pobre senhora, do interior da carroceria, acenou com a mão para alguns vizinhos, que de seus quintais observavam penalizados toda aquela miséria.
A pobre infeliz foi se embora com um sorriso maltrapilho no rosto e um cachorro vira lata no colo, achando que aquele lixo todo sobre o caminhão fosse uma mudança.