Hino à fome
Num dia qualquer, numa manhã em que sequer havia uma xicara de café, ou uma migalha de pão velho, levantou-se como sempre inocente e ouviu o estomago roncar até as onze. Depois, mais alguns minutos, ouviu passos daquela que o trouxe ao mundo, e com lágrimas nos olhos veio lhe trazendo um prato esmaltado com angú e feijão e uma sopa de ora-pro-nobis, sem costelinha de porco.
Degustou como se fosse um caviar queria mais e não havia suficiente pois existiam mais 8 bocas.
No dia seguinte, o pé de couve no quintal estava nú e as ramas da batata doce já haviam sido afogadas como se fosse um espinafre.
E assim, sucessivamente por algum tempo o fubá era o denominador comum no angu, na farinha suada, no mingau onde o leite nem passava perto.
O tempo passou e tudo aos poucos melhorou e somente após alguns anos, pôde entender o significado daquelas lágrimas de sofrimento.