Lírios

I

Quando, em alguma noite, discutíamos, ainda sem saber o amanhã, e discutíamos a beleza guardada em nosso sexo triste, o que demandava tempo, tato, saliva. E profanamos o que havia de santo em nós. O tempo era algo que não tínhamos muito. É que. Éramos chuva de verão. Táteis, táteis, táteis. O corpo e a chuva. Eram dias agitados, aqueles. Por entre eles, os campos de lírios, lírios. E entre eles, a insensatez da escopolamina e da hioscina. É que. Talvez. Os dias me embriagavam com aquele gosto de gostar. E de repente nothing for longtime.

II

No entanto era assim e necessitávamos de. E havia aquele gosto de fruta apodrecendo na gaveta. Vá antes que. Aliás. Enquanto aguardávamos na fila, o de-barba-aparada me observava. E mesmo assim. Mas não rompeu o silêncio. Estava tão eu. Nesse momento, não havia ninguém na rua. Andei, andei. E os pensamentos se desfaziam nas frinchas das calçadas. Eram aqueles que. Não eram pensamentos. Todos achavam que sentiram um dia. Sempre quis parar e olhar pela janela. Ele estava lá. E entre o lá, as frinchas guardavam as lembranças daqueles dias. Tinha certeza que aquilo não retornaria. Além disso, era complicado. Uma necessidade quase única de ressaltar as mágoas. E assim não. Na manhã de carnaval. Ou na continuação do carnaval. A de-vestido-verde, que o tempo havia esquecido. Ou guardado. De olhares disformes, castanhos. De suas manias, tão suas. Sorriu, chegou.

III

De manhã, quando fuçava em algumas caixas, encontrei as cartas, as fotografias. Eram caixas de lembranças incompletas. Faltava o cheiro, o tato. Ou não. E os lírios, lírios. Lembro-me da invasão ao cemitério. Bebíamos e fugíamos de. Um pequeno arranhão. Eu usava aquelas minhas camisetas coloridas estilo tie-dye. E vendia pulseiras. Uma simples bicicleta me bastava. Ao mesmo tempo, recordo daquela briga. De pedra, de pau. O tempo navegou sobre o mar de imprecisões, de sonhos. E mais, hoje nada mudou. O que se amplia são as caixas de lembranças. Incompletas. Já que. O resto eu levo em mim. E assim je dois partir.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 02/04/2012
Código do texto: T3590266
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