Janelas do Tempo
Chama atenção aquela senhora de cabelos branco debruçada na velha janela.
Alguns gerânios desbotados pendentes, grades enferrujadas.
No fundo restos amarelados da esvoaçante cortina.
A calçada esburacada é caminho obrigatório para o centro da cidade.
Passa otimismo, esperança, quando lá do alto grita o bom dia aos transeuntes.
A cena tornou-se popular - mais que isso referência.
Onde fica tal endereço....
- Duas quadras depois da casa da senhora na janela...
Dizem que há exatas quatro décadas diariamente
o ritual se repete.
- Porque a Senhora fica sempre nesta janela Dona Santa ?
Indaga a adolescente curiosa.
- Ah minha menina, tanta gente me pergunta isso,
tem nada não, conto pra você.
Disse acendendo um mágico brilho nos olhos.
Ato contínuo estende as mãos por entre as grades
para com cuidado abri-las como se portasse uma
jóia rara.
A jovem olha sem entender.
- Veja minha filha.
Veja!
Na palma das mãos o retrato amarelado pelo
tempo mostra um jovem fardado.
-Veja como ele é lindo!
Diz para a menina.
- Quem é ele Dona Santa.
O amor da minha vida – diz com a voz tão viva
como uma rosa recém desabrochada.
- Licença filha.
- A noite vem chegando viu!
Preciso fechar as janelas, vai que ele chegue pela
manhã – quero estar aqui cedinho para esperá-lo.
Coração parado no ontem debruçado na janela
do tempo – ritual que se repete mesmo sabendo
que isso jamais acontecerá...
(Ana Stoppa)