Vestido Branco
O convite para participar da festa de casamento da colega de trabalho veio na última hora.
A adolescente de origem humilde não tinha como de comprar um traje adequado.
Aos quinze anos, estudava, trabalhava na linha de produção de uma pequena fábrica de cadeiras de praia.
O salário era imprescindível para o orçamento familiar.
Adorava a amiga – bem mais velha atuante na área administrativa.
Queria de qualquer jeito comparecer na cerimônia.
Assim pensando, no final do expediente, ao sair da fábrica trocou as aulas por uma passada rápida na loja de tecidos.
Costurava desde menina percebera que com pouco teria a sonhada roupa para a festa.
Independente desde sempre, sequer consultou a mãe, que naquela altura já se tornara meio filha da moça de quinze anos.
Mousseline de seda! – respondeu o vendedor quando indagado sobre um tecido branco semitransparente, maleável, brilhante, lindo!
Como cabia no bolso comprou adicionando na conta algumas pedras para adornar o traje que confeccionaria.
Retornou à pé para casa – um percurso de uns três quilômetros.
Ao chegar, tirou as próprias medidas fez o molde.
Imaginou um tubinho curto com as mangas transparentes, bufantes ( mangas largas)presas nos punhos e neles algumas pedras, adorno que repetiria no decote e na barra.
Era quinta feira – o casamento aconteceria no próximo sábado.
Nem se tocou que o branco não caberia na solenidade – que era a cor exclusiva da noiva.
Terminou a costura no meio da madrugada sob o único bico de luz que precariamente iluminava a sala.
Na noite seguinte retomou a confecção da peça – colocou as pedrinhas uma a uma.
Exausta pelas duas longas noites acordou no sábado por volta da hora do almoço.
Experimentou o vestido, gostou.
Mostrou para a mãe.
Esta se limitou a dizer.
- Minha filha como que você vai sair a pé com este vestido branco e cheio de pedras durantemo dia?
Nem ouviu.
Além de gostar da roupa, queria porque queria prestigiar a querida amiga.
Lá se foi sozinha com a única bolsa que possuía, os sapatos de salto fino e o vestido reluzente, de um branco indescritível.
Apressou-se diante do horário.
A caminhada a pé, mais de uma hora.
Quando enfim chegou, a cerimônia religiosa havia terminado.
Soube na igreja o endereço onde haveria a festa.
Mais um trecho enorme andando a pé, menos mal – descida.
Do lado de fora da cerca de madeira enxergou a barraca de lona cor de chocolate.
Ouviu a música, o burburinho dos muitos convidados – animação geral.
Adentrou ( sem levar presente) louca para abraçar a amiga a quem nutria respeito e admiração.
No entanto, ao se aproximar da noiva percebeu que algo estava errado.
A amiga com ar de espanto diante de todos, antes de ser cumprimentada disse em alta voz:
- Menina, você não sabe que em casamento somente a noiva usa branco?
Não chegou a parabenizar os nubentes, fez-seum abismo.
Engoliu o choro.
Cabisbaixa disfarçou até se retirar do local.
O portão parecia tão distante.
Ao ganhar a rua solitária tal qual a sua alma, desabou em prantos.
Fez o trajeto de volta de ônibus – reservara os parcos trocos para voltar no coletivo, com medo da noite.
Chegou faminta, desabada emocionalmente.
Lágrimas se misturaram com o branco do vestido censurado, as pedras e o prata da lua que sem pedir licença entrara pela fresta das janelas quebradas.
(Ana Stoppa)