Santa Unção

Deus, Deus meu, perdoe-me pelas minhas faltas, ó Deus meu. Perdoe-me, mas não suporto esse contraste ardente dentro de mim. A luz do sol foi encoberta pelas grossas nuvens de tempestade, folhas verdes do verão foram sufocadas pelos espinhos do outono. Contrastes me cortam, ó Deus, e o carmesim sanguíneo pinga no concreto cinza, dando cheiro de morte ao lugar que, um dia, pode ter abrigado vida.

Ó Deus meu, por que substituístes os doces risos pelas salgadas lágrimas? As mãos, que antes me acariciaram, estão ásperas e cortantes. Cortes que me fazem sangrar, tirando a minha confiança ó Senhor, aquela confiança que tanto lutei para conquistar. O calor dos corpos unidos, transpirando em compasso, foi substituído pelo frio das grossas gotas de chuva em minha nuca.

Deus, escute-me, responda-me! Tic toc, o relógio infernal continua girando, faça-o parar! Ou deixe-me controla-lo, sim, para que volte para a época em que o cheiro doce do perfume nos aproximava, mas ele converteu-se em aroma acre, nos repelindo cada vez mais. Ó Deus, devolva-me o sangue, cure os cortes e costure os rasgos! Quem sabe assim, meu corpo não gritará pelo nome errado.