Noite Inquieta
O homem no seu leito estava a fitar o teto. Não conseguia dormir. Os problemas que o acossavam pareciam sem solução, e se infiltravam até no mais inocente dos seus sonhos, transformando-os em pesadelos. Sua única solução era olhar para o teto, mas agora nem isso lhe dava descanso, pois sombras escuras se mexiam nele. Pareciam vir ora da janela, ora da fresta de luz do corredor que se infiltrava pela porta meio fechada. Ele as olhava, e parecia que as sombras paravam para encarar o seu olhar, com olhos invisíveis que queimavam seu peito e o enchiam de medo ardente.
Ele então se virou na cama, de um lado ao outro, fechando os olhos e tentando conciliar o sono que tanto lhe fugia. Não se atrevia a ligar o abajur que estava em cima do seu criado mudo, porque a luz ajudava a espantar o sono, e também não queria abandonar o leito. A noite transcorria lenta, silenciosa, e o relógio parecia avançar com a pressa de uma tartaruga muito velha e cansada.
De repente, enquanto as sombras do teto continuavam a oscilar, o homem relaxou. Tinha conseguido entrar de novo no mundo dos sonhos, mas nele não demoraria muito, pois as sombras que o perseguiam estavam penetrando lentamente seu subconsciente, povoando seus sonhos com os pecados do seu passado e as angústias do seu presente.