Prioridades
H. A. entra a passos largos ao quarto de S. S., e joga-se na cadeira, com os braços finos cruzados.
S. S.: Certo, então... Bem, o que há com você?
H. A.: Aquela mesma história de sempre, (suspira), acho que dessa vez eu vou desistir.
S.S: Ouviu o que acaba de dizer?
H. A.: Sim, oras.
S. S.: Está sempre desistindo das coisas, e agora quer desistir de uma viagem?
H. A.: Pois eu ficarei ausente durante meses!
S. S.: Quantos meses?
H. A.: E provavelmente mamãe comprará uma casa e não voltarei mais.
S. S.: Então não vá.
H. A.: Se bem que aqui nesse fim de mundo eu nunca serei uma atriz.
S. S.: Fica, hein.
H. A.: Você está certo, estou sempre desistindo.
S. S.: É normal desistir.
H. A.: Lá tem telefone, poderei falar com a Rita todos os dias.
S. S.: A viagem vai durar muitos meses?
H. A.: Muitos, talvez eu fique por aquelas bandas de vez.
S. S.: Mas e os passeios que eu lhe prometi levar?
H. A.: Não tem problema em descumpri-los.
S. S.: Vai mesmo embora?
H. A.: Além do mais, está na hora de eu parar de desistir das coisas.
S. S.: E a saudade que vou sentir de você, menina? Como é que eu fico?
H. A.: Preciso mudar minhas manias.
S. S.: Eu gosto do jeito que você é.
H. A.: Que horas são?
S. S.: Meio-dia e quatorze.
H. A.: Preciso ir! Mamãe aprontou o carro para a viagem.
S. S.: Já?
H. A.: Tchau, meu amigo, tentarei visitá-lo quando puder.
H. A. levanta-se e vai embora deixando seu cheiro de amora pelo quarto.