Despedida de solteira
Despedida de solteira
Olhou a grinalda sobre a cama. No espelho, o vestido branco parecida rir do seu ventre volumoso, espremido entre os babados de renda. Jamais imaginou que o seu tão sonhado dia, tivesse esse gosto amargo de um pesadelo. Abaixou-se um pouco para retocar o baton, que pouco a pouco descoloria seus lábios. As lágrimas já estavam secando, deixando um rastro escuro no meio da face, quase tão visível quando a mancha que escondia sob o vestido branco. Não queria que ninguém soubesse o seu segredo. Muito menos ele. Mas agora, diante do espelho, começava a fraquejar. Ouviu o toque na porta, e voltou à realidade. Lentamente, limpou os vestígios das lágrimas, retocou os lábios com o baton e colocou a grinalda sobre os cabelos presos na nuca. Uma última olhada no espelho e saiu pela porta de trás.
Na igreja, cansados de esperar por ela, os convidados começaram a dispersar. Ele não conseguia entender porque ela havia desistido no último momento, ele que a amava tanto e que sempre respeitara sua virtude e meiguice. Nunca imaginara ser abandonado no altar. Não quis falar com ninguém no caminho de casa.
No dia seguinte, os pescadores encontraram o corpo na areia. Não entenderam porque alguém iria se vestir de noiva para se jogar no mar.