FEZ-SE PRESENTE


Durante a noite de Natal perambulou solitário pelas esquinas vazias da cidade  grande em busca do raro alimento para a alma -  o calor humano.

Edifícios imponentes misturavam-se às torres de comunicação, sentiu-se transparente - ninguém o enxergava.

O sereno da madrugada obrigou-o a buscar proteção  sob a marquise de um velho edifício onde se podia ver pilhas de papel descartados dos presentes.

Lembrou-se da infância distante, da perda de oportunidades, da exclusão social, das luzes do Natal.

Anotou tudo - uma espécie de diário em um pedaço de madeira em cruz retirado de um caixote de frutas - aquelas que jamais provara.

Fez-se presente cobrindo-se com os papeis e laçarotes coloridos, manchados pela sal das lágrimas.

Absolutamente só...

Lentamente as estrelas adormeceram.

Aos poucos as pessoas retornando da sagrada ceia se aglomevam naquele  lugar .

Nos primeiros raios  de Sol podia se ouvir o lamento ensaiado diante do corpo sem vida embrulhado com um festivo papel adornado de  logotipos natalinos escrito....PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE....

PAZ ALÉM DA TERRA, QUE PARA ALGUNS DOS SEUS FILHOS SE MOSTRA SEMPRE EM GUERRA...

(Ana Stoppa)

Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 25/12/2011
Reeditado em 10/07/2013
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