Sonhos de uma boa menina.
Era um sonho de menina e era um sonho só. E esse ano era o último que iria pedir.Papai Noel sempre esquecia de passar na porta para deixar aquela bicicleta que todo ano pedia na cartinha insistente, que entregava ao moço dos correios. Jurou que se dessa vez ele não viesse, não iria pedir nunca mais. Foi para a cama com o coração cheio de esperança, mas não conseguiu dormir. E viu as horas passando, a mãe acalentando o irmão mais novo no colo, o pai chegando bêbado e chutando as cadeiras, um ritual que ela nunca entendia. De repente a noite fez-se silêncio e ela fugiu para o mundo dos sonhos, onde pedalava sorridente pelas ruas, na bicicleta cor de rosa que o Papai Noel deixara. Mas acordou de repente com as batidas na porta. Alguém, vestido como o bom velhinho, repassava às mãos de sua mãe uma cesta básica e alguns pacotes de papel colorido, que os irmãos correram logo para rasgar e ver o que havia lá dentro. Eram bolas e bonecas de plástico, brinquedos simples, mas que fizeram brotar o sorriso dos irmãos. Olhou lá fora e viu que não havia mais nada a não ser outras crianças na rua esperando o Papai Noel de mentira, pois nem gordo ele era. .. Voltou para o quarto e abriu o caderno amassado, onde escrevia seus segredos. Escreveu sua última cartinha: “Papai Noel, sempre fui boa e nunca ganhei nada. Você nunca quis me agradar. Agora você se prepare. Vai ver como eu também sei ser má”. Deixou a carta aos pés da cama e saiu pela porta em silêncio, disposta a nunca mais voltar.