A BRIGA DOS SANTOS
A Briga dos Santos
A mulher, religiosa por natureza, nada fazia sem antes conversar ou pedir licença aos seus dois santos preferidos, carinhosamente acomodados no velho oratório, herdado da avó, e que ocupava um nicho num pequeno espaço do seu quarto.
Ultimamente, vinha ouvindo conversas no meio da noite.
Inicialmente, achava tratar-se de discussões de vizinhos,
pois eram conversas abafadas, ou murmuradas, como se
estivessem evitando que outros ouvissem tais brigas.
Foram várias noites de ruídos, conversas não entendidas,
murmúrios, lamentações, etc.
Até que certa noite, ela levantou-se silenciosamente, colou o ouvido na parede, aguçou a audição, mas nada conseguiu ouvir. Voltou para a cama, ainda em silêncio, quando ouviu alguém falar o seu nome. Aguçou um pouco mais a audição e escutou que a discussão vinha do oratório. Eram os dois santos discutindo qual deles era mais estimado pela religiosa, qual deles era mais solicitado, a qual ela amava mais e qual deles era mais
poderoso.
A mulher não se conteve: Amarrou os dois santos, um no outro, e foi deitar-se.
A partir daí, não se ouviu mais os murmúrios da noite.