COM A PONTA DOS DEDOS

Num dia qualquer, num lugar inesperado, num minuto atemporal, algo aconteceu. Sem que houvesse previa intenção, eles se tocaram com as mãos.

Ela pensou: “Se ainda não estive debaixo de teus lençóis, como posso interpretar com tanta lucidez o sabor destas tuas palavras? Serão elas as mesmas que insisto em esconder na pequena gaveta de meu armário?”

Ele, com seus olhos irrequietos, imediatamente rendeu-se aos pés daquele branco aroma da gardênia. Sequer tentou resistir, se o único que desejava era entregar-lhe tão somente a palma de suas mãos.

Ela, com a delicadeza da ponta dos dedos acariciou-lhe a linha da vida, e com seu olhar de absoluta indignação, lhe increpou:

“Não sei quem tu serás, mas hoje me tens aqui”.

Millarray
Enviado por Millarray em 18/10/2011
Reeditado em 18/10/2011
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