A dor da ausência
A dor da ausência
Maju Guerra
Há seis meses ele se fora, havia deixado apenas o cheiro da sua ausência. À noitinha, quando voltava do trabalho, ela já se acostumara ao silêncio entranhado pelos cantos da casa. Dormia ao som da caixinha de música, companheira da infância, aconchego do tempo em que se sabia amada. As lembranças e a bailarina, dando voltas sem chegar a lugar algum, acabavam por lhe trazer o sono sem memórias.
Naquela noite, ao abrir o portão, deparou-se com a luz na sala. Cheia de receios, o desconhecido assusta, abriu a porta com cautela. Ele, sentado no sofá, sorria com as mãos estendidas para ela. Ela aceitou suas mãos e seu retorno, não lhe fez perguntas. Agiu como sempre agira antes da sua partida. Decidiu curar as feridas com a presença dele. Depois, depois seria somente depois... Sem dores, compreenderia melhor o que acontecera, aceitaria sua parcela de culpa na separação. O perdão haveria de preencher cada pedaço vazio dentro dela.
Maria Julia Guerra.
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