Noturno em Rio Branco
O relógio da matriz batia dez horas
Sob a lua cheia os amigos caminhavam pela noite
Os assuntos das penas da vida, e da maldade dos homens
Sempre submetidos a crença na força que a liberdade e a felicidade
Molda no peito dos que não desitiram de sonhar
Nem de usar as armas de que dispõem para trazer à realidade seus sonhos
Os arremedos de canions urbanos
Boicotados pelas esparsas casas antigas que teimavam em se impor
Contra o progresso do mal gosto de todo esquecimento e afetação
Não conseguiam esconder a lua, aparição gloriosa na noite mineira
Que lembrava todas as músicas, das serenatas, das rodas de violões
Dos gostos das comidas rechedas de histórias do que foi muito antes
E cada passo martelava no chão tantas vezes caminhado
Todas as histórias, nossas, dos amigos, dos pais, avós e do mais
Todas as vivências da infância, juventude, das de adulto
Das histórias dos velhos, das festas, das decepções, todos os caminhos
Trilhados por nós e por aqueles com que aprendemos
Batia em cada passo na calçada de grandes pedras capistranas
O tempo, matéria da qual se fazem os homens estava ali
Presente, com passado e futuro em cada passo
Em cada palavra, em cada sentimento, em cada gota do sereno que se inciava
A crença na vida, nos amigos, nos amores, e o saber do limite de todos esses
E o saber que o limite que a vida nos impõe, por sua força e nossa fraqueza
Não diminui em nada toda a beleza que nos cerca em uma noite enluarada