O esquecimento
Chegara cedo ao velório do amigo Paulo.
Dos que lá estavam, só conhecera Sílvia, a viúva. Apresentou-lhe formalmente seus sentimentos e ficou a um canto observando o movimento. Nesse empenho, foi identificando alguns dos presentes pelas conversas.
( - Seu irmão foi uma boa pessoa, minha querida.
- Obrigada, minha amiga.
Ouviu também Sívia dizer a uma senhora que entrava:
- Tia! O tio Sérgio não veio com você, não?
- Está comigo sim. Parou no caminho para falar com seu primo Agenor.)
Horas depois, nota que um sujeito parece estar dando em cima da viúva. Presta mais atenção e faz a constatação óbvia: realmente o homem faz a corte à Sílvia e ela não se faz de rogada; o flerte é recíproco, não resta dúvida.
Num ápice vem-lhe a lembrança Nelson Rodrigues com seu personagem Palhares, o canalha, e um resto de frase: às vezes o esquecimento vem antes que murchem as flores do caixão.