Fitando estrelas
Noite enluarada. O veleiro balouçante ancorado fora do canal de São Sebastião na geografia mística de Ilha Bela.
Cansado de navegar, estendo-me sobre o convés contemplando o céu estrelado. Como são belas as estrelas. E quanto o mar as aproxima de mim!
Sinto-me impelido a aprender o nome delas, a conhecê-las uma a uma.
A constelação de Cisne parece conversar com Altair, que é tão clara como um brilhante. As constelações de Flecha e do Delfim parecem escutar a conversa fechadas em sua humilde pequenez. Pégaso está cavalgando no Oriente com seus esquadrões de estrelas, enquanto Pérola desaparece no Ocidente. Mais um pouco e a vermelha Argos me presenteia com a elegância de Perseu. Limpo as lentes dos óculos e torno a fixar os olhos sobre Andrômeda. A noite é tão serena e o mar tão calmo que posso entrever a nebulosa que traz nome idêntico ao da constelação. Trata-se do corpo celeste mais distante da Terra, visível a olho nu: 800.000 anos luz.
Entre essa enorme distância e a menor – os 4 anos luz de Próxima que pode ser viste em determinadas épocas na constelação do Centauro – há as distâncias de um aglomerado de 40 bilhões de estrelas, do qual faz parte a Galáxia a que nós – grãozinho de areia denominado Terra – pertencemos.
E além da nebulosa de Andrômeda, milhões de nebulosas e bilhões e bilhões de estrelas que os meus olhos não alcançam, mas que estão lá.
O cosmo é diferente dos homens?
Ocorre-me que Deus é o criador do cosmo físico, da mesma forma que é o Criador do cosmo humano. A tudo governa com amor. É como o fio em relação a corrente elétrica. Nós somos o fio, Ele é a corrente. Todo o nosso poder consiste em deixar passar a corrente, mesmo tendo o poder de interrompê-la.
Contemplando as estrelas descubro que não sou nada, que não sou responsável por ninguém, que não sou homem importante. Isso me causa a alegria de um menino em férias. A noite me envolve no marulhar das ondas e concilio o sono.