PORQUE ERA HOMEM
Naquela região montanhosa, a grama seguia verde e o gado andava solto. Enquanto contemplava a paisagem pela janela do trem, revisou sua pequena maleta. Sua esposa a tinha arrumado com poucas roupas. Porque era homem, não achava necessário levar tantas calças e camisas para aquela viagem.
Lembrava que fazia muito tempo que não retornava a sua cidade natal. Quando escolheu sua carreira universitária, teve que emigrar para a grande capital. Porque era homem, precisava correr atrás das oportunidades.
Quando já se aproximava da estação, avistou aquele senhor de terno, chapéu e muletas. A doença das cadeiras não lhe permitia que ele ficasse muito tempo em pé. Ainda assim, porque era homem, estava ali bem parado, com a cabeça erguida feito pavão esperando a chegada do trem. Estava sozinho. Fazia alguns anos que a vida lhe havia roubado aquela senhora de avental sempre sujo com farinha por sovar os pães caseiros.
Com um forte aperto de mãos e alguns tapas nas costas, se encontraram como pai e filho. Porque eram homens, lhes ensinaram que abraço apertado era coisa de mulheres.
Ele ficou com lágrimas nos olhos, mas preferiu escondê-las limpando-as discretamente com os dedos. Porque era homem também podia chorar, mas em respeito aos valores que aprendeu daquele senhor, preferiu fazê-lo com dignidade.