Cotidiano
Sempre que ele cruzava com algum vizinho era a mesma conversa mole sobre o tempo: vai chover; não vai chover e outras amenidades. Da sua boca tudo que a vizinhança podia ouvir resumia-se a um bom dia, uma boa noite ou um bom fim de semana.
Por uma questão de princípios recusava-se a alimentar falta de assunto. Pelo menos era essa a desculpa que dava à mulher e aos amigos. A verdade era outra, porém: via-se acometido por horríveis engasgos sempre que articulava dizer uma banalidade qualquer. Era como um tique nervoso, uma espécie de limitação física que o seu organismo impunha ao prosaico do cotidiano.