COMEMORAÇÃO DE ANIVERSÁRIO

Naquele final de semana seria a comemoração do 50º aniversário de Paulo.

Advogado, amigo dos amigos e dos amigos dos amigos, com mais de vinte anos de militância jurídica.

Durante todo esse tempo, já havia ajudado um sem número de pessoas, principalmente os necessitados que, mesmo sem ter um tostão no bolso com que pagar os serviços, iam procurá-lo porque sabiam que, antes do dinheiro e dos agradecimentos o que Paulo queria, realmente, era ver a justiça ser feita, onde perante a Lei, não há forte nem fraco, privilegiado ou desprotegido. Só há a razão e essa, sempre esteve ao lado de Paulo.

Seus casos não eram rumorosos ou complicados.

Qualquer assunto que exigisse a interveniência da justiça, era relatado de forma precisa na peça inicial que, raramente passava de uma lauda. As alegações eram dispostas de forma tão precisas que se tornavam irrefutáveis.

Também por isso, Paulo (que sempre declinou o título de doutor antes do nome, apesar de tê-lo conseguido com louvor) era bem quisto por todos que tinham a oportunidade de conhecê-lo.

Os amigos se cotizaram para fazer a festa cuja lista de convidados já ultrapassava as 150 pessoas de todas as classes sociais.

O cardápio era simples. Somente buchada de bode para tirar gosto da cana.

O almoço seria em família, mesmo porque não havia espaço para conter tanta gente.

No sábado, logo cedo, chegaram os dois panelões com as buchadas de carneiro (os bodes vieram muito magros, não ia prestar) que haviam sido preparadas pelas amigas; as carnes salgadas para serem churrasqueadas; galinha à cabidela, (deviam ser pelo menos cinco) dentro do caldeirão de preparar a sopa dos pobres da paróquia, cheio até a boca; um balaio de abacaxis; várias sacolas com umbu, cajá, carambola e laranja, muita laranja; copos e pratos descartáveis.

Paulo, que não sabia de nada, estava admirado com a homenagem prestada pelos amigos que chegavam de todos os cantos.

Um batalhão de mãos agradecidas preparou tudo, em silêncio, para o brilhantismo da festa.

O carro do cerimonial trouxe a cesta do café da manhã, para ele e a mulher, e em altos brados, na praça em frente a casa, repleta de amigos e curiosos, recitou os versos feitos por sua mulher e o discurso feito pelo juiz da comarca.

Abraçado à mulher e ao filho menor, Paulo assistiu a tudo com o rosto banhado em lágrimas.

Lá pelas quatro horas da tarde, no final da festa, depois do quase interminável desfile de pratinhos, contendo, pirão mexido com os pedaços de buchada, churrasco, galinha à cabidela com farinha, as frutas cortadas e com palito enfiado, bandinhas de limão, dois vidros grandes de molho de pimenta, outras mãos anônimas limparam a varanda, o jardim e o quintal de onde foram recolhidas as garrafas de aguardente vazias que encheram dezessete grades.

Além das outras bebidas, alcoólicas ou não, foram consumidos 244.8 litros de aguardente de cana, nessa festa que ficou na história e de onde só as crianças pequenas voltaram sóbrias para suas casas.