TIRO CERTEIRO

Caio Pedrosa sempre disse que não iria caçar com os colegas, porque não queria estragar a pontaria com caça ruim, muito menos acompanhado daquele bando de principiantes.

No entanto, apesar dos protestos de todo mundo, jamais se dispôs a demonstrar a pontaria tantas vezes auto elogiada.

Nas festas da igreja, quando eram armadas as barracas de tiro ao alvo, de espingarda, de bola de meia ou de ferradura, Caio nunca aceitou o desafio, feito pelos colegas, para angariar todos os prêmios e demonstrar sua pontaria invejável.

Numa tarde de muito sol, quando os caçadores estavam dividindo o conteúdo dos bisacos na calçada alta da venda de Toinho de Dé, apareceu um gavião volteando por sobre a cidade.

Todo mundo ficou encantado com o tamanhão do bicho. Cinza escura, quase preta, com a parte interna das asas toda pintadinha como galinha carijó.

Na ponta da rua, a uns seiscentos metros de onde os caçadores estavam reunidos, o gavião pousou na palha mais alta do pé de dendê.

Aí começou a disputa. Todo mundo queria atirar no bicho, quando Caio Pedrosa disse:

- Esse é meu!

Pegou o rifle de Ivo da Paz e, displicentemente, com uma mira ligeira, atirou.

Os segundos que se seguiram ao estampido pareciam eternos, como se o tempo tivesse congelado.

De repente, o gavião abriu as asas e caiu morto de mais de vinte metros de altura.

- Taqui teu rifle, Pazinho!

E para os demais, Caio Pedrosa disse, entrando na venda.

- É assim que se atira, viu?